Slipstream: Jogo de desenvolvedor brasileiro reimagina clássicos arcade de corrida
Aprendendo a desenvolver jogos e perceber que era possível viver disso
Meu nome é Sandro de Paula, sou brasileiro e desde pequeno meu sonho era me tornar um desenvolvedor de games. Tive meu primeiro verdadeiro contato com ferramentas de desenvolvimento de jogos quando tinha 14 anos, mas esta não parecia uma carreira viável para mim naquela época. Não havia muitas oportunidades no meu país e, por isso, decidi perseguir outros interesses, como música e jornalismo. Por volta de 2012, quando a primeira leva de jogos independentes teve sucesso internacionalmente, fiquei convencido de que aquele era o momento em que seria possível me tornar um desenvolvedor solo. Foi então que comecei a me dedicar a isso com maior seriedade, aprendendo e experimentando. Meu primeiro projeto “real” foi um jogo mobile chamado Meow Sushi Night, lançado para Android em 2014. Logo em seguida, comecei a trabalhar em Slipstream.
As origens de Slipstream
Isso pode ser uma surpresa para você, mas a idea por trás de Slipstream surgiu de uma curiosidade técnica. Logo após finalizar Meow Sushi Night, eu tinha uma boa compreensão sobre como gráficos 2D funcionavam, mas ainda me perguntava: “Como os jogos clássicos de corrida criavam uma perspectiva 3D com hardware 2D?”. Fiz uma pesquisa e fiquei imediatamente fascinado por essa técnica pseudo-3D e decidi tentar criar minha própria implementação disso, e o projeto cresceu a partir desse ponto. Naquela época, já havia jogado alguns dos jogos mais clássicos de corrida, como OutRun, F-Zero e Top Gear, mas eles não se tornaram uma paixão até eu começar a trabalhar em Slipstream. Muitos dos jogos de corrida têm foco em criar carros que funcionem em simulação física realista, mas o gênero de corrida também tende a ter uma abordagem mais estilizada e expressiva, e é nesta direção que tentei seguir. Minha intenção era proporcionar para as pessoas a fantasia de uma viagem de carro internacional colorida, como OutRun fez na época.
A evolução das mecânicas: O que torna Slipstream um jogo de corrida diferente?
Acho que o drift e o slipstream sempre foram essenciais para o jogo. A primeira demo que publiquei em 2015 não tinha nenhum deles, e a jogabilidade era muito básica na época. Apesar de estar no próprio nome do jogo, a mecânica do slipstream não estava presente nele desde o início – ela foi adicionada como um ajuste natural. A ideia de adicionar o drift e slipstream foram inspiradas em OutRun 2006/Coast 2 Coast, que foi uma tentativa da própria Sega de modernizar o gameplay do OutRun original. Não gosto muito da mecânica de comando manual em jogos de corrida antigos – trocar as marchas manualmente em um jogo de corrida não realista não é muito divertido -, então nunca considerei usar isso como mecânica. Mesmo assim, o jogo ainda precisava de algo para o jogador fazer além de acelerar e manobrar. A habilidade de rebobinar foi a adição mais recente à mecânica principal, e acredito que foi para o melhor, pois ela dá ao jogador uma oportunidade estratégica de tentar realizar novamente uma curva difícil ou desfazer um acidente. Todas as mecânicas foram adicionadas de forma muito natural – não planejei muito, apenas fui testando coisas até tudo parecer divertido ou satisfatório.
A trilha sonora de Slipstream e suas inspirações
A trilha sonora de Slipstream é uma parte muito característica do jogo. Ela foi criada pelo meu amigo e colaborador dos EUA, Stefan Moser, também conhecido como Effoharkay, que também fez a trilha sonora do meu jogo Meow Sushi Night. A trilha sonora foi criada em paralelo com o game, então ela teve influência direta no resultado final. Às vezes, parecia que estava criando um jogo para a trilha sonora, e não o contrário. Slipstream definitivamente não seria o mesmo sem essas faixas musicais. Do meu ponto de vista, elas resultam de uma combinação de influências do synthpop dos anos 80, vaporwave e synthwave dos anos 2010, jazz fusion e eurobeat. A trilha sonora é uma parte diegética do jogo – é a música que você está ouvindo no carro enquanto dirige. Por isso, ela não foi criada para se encaixar em uma faixa ou local em particular, mas para definir a atmosfera e o tom do jogo como um todo.
“A música de Slipstream foi composta ao longo do desenvolvimento, o que foi legal porque os requisitos, inspirações e referências passaram por mudanças contínuas”, comenta Stefan. “No começo, nós estávamos realmente pensando em synthwave/synthpop, gêneros que eram populares por volta de 2009-2015. Foi então que, é claro, Outrun e outros jogos/simuladores de corrida clássicos entraram na mistura. Eventualmente, chegamos ao vaporware, eurobeat, jazz fusion, etc. A ideia de ter um rádio tocando a música do carro facilitou o processo de imaginar o jogo como um álbum em vez de uma trilha sonora.” Quanto às referências e inspirações midiáticas, Stefan afirma: “Lembro-me dos pesos-pesados como Drive e Outrun, mas me recordo que tentei considerar a arte, compor para a jogabilidade e tentar me sentir revigorado com isso. Quanto a outros artistas, quando estava compondo ouvia muito Com Truise, Electric Youth, Jean Luc Ponty, Casiopea e muito mais.”
Com uma trilha sonora fantástica e mecânicas que trazem os jogos de corrida clássicos à era moderna, espero que você se divirta bastante com a combinação de nostalgia e gameplay desafiador de Slipstream – e o jogo já está disponível para Xbox!