Dica LivrosHQs

Pega Essa Hq – Paper Girls

Quem precisa de Stranger Things quando se tem Paper Girls?

E o melhor, sem a insuportável Millie Bobby Brown. Hq premiada se passa no anos 80 e mistura o melhor da ficção científica dessa época e da atual

Uma grande viagem!

Existe um gênero do cinema chamado “coming up age”.

São aqueles filmes onde o protagonista (ou protagonistas) atravessam a jornada do autoconhecimento. É um ritual de passagem da vida infantil para a vida adulta.

Existem trocentas obras que focam no tema, mas apenas algumas conseguem transmitir isso de forma convincente e emocionante. Aqui vale citar os clássicos “Conta Comigo”, baseado no livro do mestre do terror Stephen King, “Agora e sempre” com a musa eterna Christina Ricci e claro, a obra máxima que fez e faz muita gente chorar até hoje, “ET, o extraterrestre” de… ah, você sabe quem, né?

E foi nesse clima de crescer e aprender que Brian Vaughan, Cliff Chiang e Matt Wilson entregam uma das melhores HQs dos últimos anos: Paper Girls!

Lançada lá fora em 2016 pela Image Comics, a série chegou por aqui no ano seguinte pela DEVIR e se tornou uma pequena obra prima que merece ser lida, relida e admirada não só pelo texto certeiro de Vaughan, mas também pela arte deslumbrante de Chiang e as cores perfeitas de Wilson.

Já é clássico. E como se não bastasse a aventura se passa nos anos 80. 

Como não amar?

Girls justa wanna have fun!

Acompanhamos Erin, de 12 anos, em seu primeiro dia como entregadora de jornal na pequena cidade de Stony Stream. O ano? 1988.  A data? nada menos que a madrugada de Halloween, ingrediente apetitoso o suficiente até pra um Howard Hughes chorar de orgulho. E tome referências oitentistas pra tudo que é lado, sejam nas fantasias de Freddie Krueger ou nas camisetas do Guns n’ Roses espalhadas pelas páginas do gibi. 

Quer mais? Robôs gigantes, dinossauros, fendas interdimensionais, códigos secretos e Atari. Muito Atari.

Pois bem, nossa pequena heroína percorre as ruas na sua bike até ser incomodada pelos valentões típicos que perambulam pela cidade atrás de gostosuras ou travessuras e muita confusão. É muita Sessão da Tarde!

Nesse momento somos apresentados à casca-grossa Mac, a sensata Tiffanny e a sarcástica KJ.

Após as devidas apresentações, as garotas decidem se separar em duplas para não correrem o risco de trombarem mais otários noite adentro em meio ao dia das bruxas. Cada dupla leva um walkie talkie para evitarem encrenca.

Após um encontro de Tiff e KJ com o que parecem uns ninjas deformados que falam uma língua ininteligível, o quarteto (fantástico?) decide ir atrás da trupe bizarra. E aí amizade, prepare-se pra uma das melhores histórias em quadrinhos lançadas na ultima década.

A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo planos para a vida

Esqueça essas sériezinhas que tão surgindo aos montes exaltando os anos 80 com “grandes lições de moral e valores como amizade”. Tá, aqui rola isso mas de maneira bem hardrock. É mais Motley Crue do que Simple Minds.

Perca-se na arte riscada e dinâmica do mestre Cliff Chiang em parceria com as cores chapadas de Matt Wilson. Incrível como essa dobradinha funciona de maneira simples. 

Cada quadro é uma explosão de técnica e narrativa perfeitas. Tanto a arte quanto as cores combinam bem e entregam um trabalho de pop art que daria facilmente pra pendurar na parede do quarto ao lado dos pôsteres do Bon Jovi ou de A noite dos mortos vivos.

E como se não bastasse, temos a sensibilidade certeira de Vaughan, que trata do universo adolescente feminino de maneira impar: No meio de tanta porradaria com robôs estilo Tokusatsu e dinossauros voadores, temos as jornadas dessas meninas que já se tornaram chegadas da gente logo nas primeiras páginas: o primeiro amor, a relação com os adultos, se tornar adulto, o desejo de ser quem não é, as confusões mentais. Brian Vaughan entrega tudo.

Pra se divertir. E se emocionar.

A cada página vamos nos apegando a essas Paper Girls, as entregadoras de jornal da pequena cidade de Stony Stream como se fossem nossas irmãs mais novas, um primeiro amor da adolescência ou um retrato antigo de nós mesmos, que esquecemos em algum lugar no meio das responsabilidades e frustrações de se tornar adulto.

A série foi indicada ao Eisner Awrads, o Oscar dos quadrinhos. E tem live action chegando por aí pela Amazon. 

Merecidíssimo!

Nota…

Curtiu?! Veja A Crítica da HQ Calvin e Haroldo AQUI!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *