Pega Essa Dica – Sem Chão
Sem Chão foi o grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário — e não poderia ser diferente. Em meio ao atual cenário político dos EUA, a escolha de um filme sobre a Palestina carrega um peso simbólico ainda maior. A frase dita por Basel Adra logo no início, “Eu comecei a filmar quando começamos a desaparecer”, nos transporta imediatamente para um cenário de guerra que, até então, muitos só haviam encontrado nos livros de história.
A obra desafia a linearidade do tempo. Codirigido por Adra, Hamden Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor (sendo Szor a única que não aparece diante das câmeras), o documentário tem como ponto de partida o ano de 2009, quando Adra começou a registrar as demolições conduzidas pelo exército israelense em Masafer Yatta, uma comunidade de pequenas aldeias palestinas no sul da Cisjordânia. Ali, famílias que vivem há gerações enfrentam a constante ameaça de expulsão pelas forças ocupantes.

Mas Sem Chão não é apenas um retrato do passado — é a crônica de uma história que segue viva. É o momento em que números se tornam rostos e ganham voz. O documentário surpreende ao resgatar imagens ainda mais antigas, captadas por equipes de TV estrangeiras e pelo próprio pai ativista de Adra, estendendo a linha do tempo da resistência em Masafer Yatta para os anos 1990. Entre essas gravações, há uma passagem emblemática envolvendo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. O que se revela ao longo do filme são três décadas de resistência contra uma tentativa sistemática de apagamento.
Mais do que um registro documental, Sem Chão nos obriga a refletir sobre como essa luta se desenrolou ao longo dos últimos 30 anos e quantas vozes foram silenciadas até que o conflito chegasse ao ponto em que o acompanhamos hoje: uma guerra extremamente violenta.
A estética do filme, à primeira vista, pode parecer amadora, mas essa impressão logo se dissipa. O olhar cru e direto da câmera não é um acaso — é a única forma de capturar a urgência e a brutalidade de uma guerra. Cada imagem carrega consigo não apenas o peso da destruição, mas também o desespero e a resiliência de um povo que resiste.

