Crítica CinemafilmePega Essa DicaPega Essa Novidade

Pega Essa Dica – Meu Casulo de Drywall

O longa-metragem “Meu Casulo de Drywall”, dirigido por Caroline Fioratti, foi a única produção brasileira selecionada para o festival SXSW de 2023.

A história gira em torno de Virgínia, uma jovem de 17 anos que planeja comemorar seu aniversário apenas com amigos, longe dos adultos, no luxuoso condomínio onde mora em São Paulo. A festa é tudo o que os adolescentes poderiam desejar, mas, conforme a noite avança, algo de perturbador acontece: Virgínia vai se tornando cada vez mais debilitada até ser encontrada misteriosamente morta.

O filme possui múltiplas camadas e histórias que poderiam ser ainda mais aprofundadas, sendo material perfeito para uma série de 10 episódios que expusesse de forma mais detalhada como nossa sociedade está doente.

A trama aborda temas como saúde mental e violência estrutural, em um ambiente aparentemente seguro, onde a vigilância é constante, mas que ainda esconde seus próprios horrores. O cenário é um condomínio de luxo, habitado por juízes, generais, candidatos a cargos eletivos, e mulheres que se esforçam para manter as aparências de uma família conservadora, mesmo fingindo não enxergar os absurdos que acontecem dentro de suas próprias casas.

Com uma produção de qualidade e um roteiro impactante, o filme explora problemas que afetam jovens ao redor do mundo: o fácil acesso à tecnologia, frequentemente utilizado para o mal em vez de para o autodesenvolvimento, e o afastamento dos laços familiares. “Meu Casulo de Drywall” expõe a romantização do uso de drogas e a superficialidade das relações humanas, reforçando como a juventude atual enfrenta crises mentais graves.

Bella Piero entrega uma performance marcante como Virgínia. Sua personagem, que começa doce e gentil, cresce ao longo da narrativa, deixando o espectador intrigado sobre seu destino. Mesmo sabendo desde o início que sua morte é iminente, Bella consegue esconder qualquer sinal de como e quando isso ocorrerá, criando uma tensão constante. Uma ferida em seu braço, que vai crescendo ao longo do filme e só ela e o público conseguem ver, levanta a pergunta: será essa uma representação física de seu estado psicológico, ou do quanto ela está ferida pelas pessoas ao seu redor?

Maria Luisa Mendonça, sempre brilhante, interpreta a mãe autoritária e superprotetora de Virgínia, que, após a tragédia, se culpa profundamente, oferecendo uma atuação comovente. A participação especial de Caco Ciocler, apesar de breve, é crucial para a narrativa: ele interpreta o pai ausente que tenta comprar o amor da família com presentes caros e uma vida de luxo.

O roteiro é bem construído e aborda temas importantes. Os jovens da trama, ao entrarem na vida adulta, mesmo “protegidos” pelas paredes do condomínio, são expostos a racismo, homofobia, hipersexualização, indiferença, egoísmo, violência doméstica e falta de amor familiar, que são revelados em toda a sua crueza após a morte de Virgínia.

Cada personagem carrega sua própria toxicidade, machucando aqueles ao seu redor por pura ganância ou egoísmo. Virgínia, por sua vez, é uma presa fácil para os “predadores” à sua volta, aceitando tudo por gostar deles e por viver em seu mundo cor-de-rosa, mesmo quando é ferida.

A produção e o roteiro do filme são impecáveis, embora o longa pudesse ser um pouco mais conciso, sem repetir alguns arcos narrativos que já estavam claros. Como série, esses elementos poderiam ter sido melhor explorados. A fotografia e a coloração são bem trabalhadas, com destaque para as cenas noturnas e o uso criativo da luz. O áudio é claro e limpo, embora pudesse ter incluído um pouco mais do ruído urbano característico de um condomínio. A forma como a morte de Virgínia é revelada funciona, mas talvez falte um pouco de criatividade, considerando a expectativa criada pelo suspense.

Em resumo, o filme gera desconforto e ansiedade em várias cenas, e é impossível assisti-lo sem sentir um impulso constante de descobrir o que realmente aconteceu na festa de Virgínia.

Infelizmente, “Meu Casulo de Drywall” pode não alcançar grande popularidade ou espaço nos cinemas comerciais. No entanto, é um suspense dramático e intenso que retrata as dificuldades da adolescência e nos lembra da importância de estarmos atentos aos jovens ao nosso redor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *