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Pega Essa Dica – Ás Vezes Quero Sumir

Ás Vezes Quero Sumir (Sometimes I Think About Dying, 2023), longa-metragem estadunidense do gênero comédia dramática, distribuído pela Synapse Distribution, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir de 23 de maio de 2024, com classificação indicativa 12 anos e 91 minutos de duração.

Enquanto algumas pessoas navegam pela vida com facilidade, para outras, é uma jornada repleta de desafios. Fran, interpretada por Daisy Ridley, pertence a este segundo grupo. Esta introvertida funcionária de escritório na casa dos trinta anos criou um mundo onde a rotina diária serve como um escudo contra o risco de interações sociais, seja durante o expediente ou após. Fran não é necessariamente avessa a socializar; ela simplesmente nunca conseguiu decifrar o código da conversa casual, o dar e receber de um diálogo cortês.

Para Fran, é natural se perder em seus pensamentos profundos, ainda que estes sejam um pouco sombrios. De vez em quando, em meio à rotina do escritório, deixa-se invadir em pensamentos sonoros que silenciam o burburinho dos colegas. Nesses momentos, Fran se depara com uma revelação. Em sua mente, ela escapa para um local isolado, seja uma clareira tranquila na floresta ou uma praia deserta, onde a única presença é a de seu próprio corpo inerte. Não que ela deseje a morte, pois não tem intenções suicidas, mas a ideia da morte a fascina pela sua quietude e simplicidade.

Fran não fala no filme durante os primeiros 22 minutos de duração. Nem uma palavra. A primeira coisa que ela diz é que gosta de queijo cottage. Não há mistério por trás do motivo pelo que ela diz isso. Ela está em uma reunião no escritório onde todos são convidados a se apresentar compartilhando sua comida favorita. Todo o resto sobre ela é um mistério e permanece assim.

No meio de sua luta contra pensamentos sobre a morte, Fran encontra um novo colega, Robert (Dave Merheje), cuja natureza extrovertida e charmosa é inegável. Ele a vê como ela é, sem preconceitos, e a trata com visibilidade e respeito. Juntos, eles exploram novas experiências, como uma ida ao cinema seguida de uma refeição casual onde compartilham uma torta. Em uma festa a que são convidados, participam de um jogo de mistério e assassinato, onde Fran se destaca ao se envolver e interagir. Sua abordagem literal da vida e dificuldade em captar humor e sutilezas não diminuem o fascínio de Robert por ela, pelo contrário, ele se sente cada vez mais atraído. As sombrias fantasias de Fran são suavizadas pelo humor e pela perspectiva otimista de Robert, trazendo um novo brilho à sua vida. O futuro de suas interações permanece um mistério, aberto a todas as possibilidades.

Ridley apresenta um trabalho notável ao dar vida a Fran, evitando transformá-la em um amontoado de estereótipos. Sob sua atuação, Fran transcende o clichê, tornando-se um verdadeiro mistério. Merheje, por sua vez, encanta na pele de Robert, trazendo à tona a essência de um homem genuíno, repleto de empatia, alegria de viver e uma naturalidade cativante. O interesse de Robert por uma figura introspectiva como Fran suscita curiosidade, e a escolha do filme de não desvendar completamente esse enigma é uma aposta arriscada.

Rachel Lambert apresenta um trabalho intrigante na direção, que se destaca principalmente por sua abordagem onírica e sutilmente surreal, conferindo ao filme um sucesso parcial. Contudo, a obra dá a impressão de necessitar de um ato adicional para alcançar uma conclusão satisfatória, assemelhando-se a uma ponte que permanece inacabada. O filme esforça-se para alcançar uma catarse, mas a falta de informações essenciais impede que o espectador complete a travessia metafórica. Essa sensação de incompletude pode ser atribuída, em parte, à origem do roteiro. Co-escrito por Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead, Às Vezes Quero Sumir expande um curta-metragem de 2019, também dirigido por Horowitz e premiado, que por sua vez é inspirado na peça Killers de 2013, escrita por Armento. Esta peça entrelaça duas narrativas distintas, incluindo a de uma mulher que fantasia com a própria morte. A adaptação para o cinema concentra-se exclusivamente nesta figura, eliminando completamente a outra história paralela, o que pode ter contribuído para a impressão de que algo no filme permanece por concluir. As lacunas narrativas são provocativas, mas deixam uma equação onde a soma das partes não resulta no esperado.

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