Pega Essa Dica – Arca de Noé
“Arca de Noé” é um filme inspirado nos poemas e canções de Vinícius de Moraes, que narra uma das maiores fábulas bíblicas em território brasileiro. Com estreia prevista para 7 de novembro, o filme promete contar uma versão cristã divertida e repleta de musicais.
Os ratinhos Tom e Vini, uma dupla carismática de artistas, são os protagonistas. Quando o grande dilúvio se aproxima, apenas um macho e uma fêmea de cada espécie podem entrar na Arca de Noé. Apenas um deles é aceito, enquanto o outro, com a ajuda de outros animais e insetos, precisa encontrar uma maneira de embarcar e se salvar. Durante a viagem em busca de novas terras, um concurso de música surge como uma oportunidade para que Tom e Vini se destaquem.
Com uma equipe de mais de 1.500 profissionais do Brasil e da Índia, Arca de Noé custou US$ 6 milhões, tornando-se uma das produções mais caras do cinema brasileiro. O elenco de dublagem inclui grandes nomes como Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Lázaro Ramos, Bruno Gagliasso, Alice Braga, Ingrid Guimarães, Heloísa Perissé, Eduardo Sterblitch, Seu Jorge, Gregório Duvivier, Júlio Andrade e Luís Miranda.
Visualmente, as cores vibrantes e o uso de animação 2D e 3D são agradáveis, mas o roteiro peca por ser cansativo e carente de inovação. Há também referências a personagens de outras animações conhecidas, como Madagascar e O Rei Leão, que aparecem de forma caricata, sugerindo uma falta de originalidade. Sendo um filme de produção brasileira, havia muito espaço para usar referências de nossa fauna local.
Embora o filme devesse tratar de inclusão e diversidade de maneira positiva, ele tropeça nesse aspecto. Os personagens de classes desfavorecidas (simbolizados por ratos e baratas) são marginalizados e retratados de forma estereotipada, lutando pela sobrevivência nas sombras e esgotos. Para um filme voltado ao público infantil, questões sociais são mencionadas, mas sem a devida resolução ou desenvolvimento criativo. Em um momento, uma criança pergunta sobre a presença de animais LGBTQIA+, mas a pergunta é logo interrompida, reforçando que apenas casais binários seriam aceitos na arca (macho e fêmea). Essa cena poderia ter sido uma oportunidade de inclusão, mas o tema acaba sendo tratado superficialmente.
A caracterização de Deus é divertida, usando gírias e referências à tecnologia atual como WhatsApp e a moda de áudios longos, sendo esse um dos motivos para inundar o planeta. No entanto, o personagem aparece como um mandante mimado, sem transmitir ensinamentos ou reflexão à humanidade. Já Noé é uma caricatura, lembrando mais um cientista maluco cópia barata de Albert Einstein do que o sábio ancestral bíblico.
O roteiro enfrenta dificuldades com os personagens, ações e a própria narrativa. As diversas músicas e referências à cultura contemporânea, como TikTok, selfies, WhatsApp e linguagem neutra, não agregam à trama. O filme carece de ação, desenvolvimento de dramas e subtramas que deem profundidade. A narrativa é lenta, tornando o filme cansativo e enfadonho. É evidente que o foco esteve em atrair um grande número de atores e cantores para a dublagem, enquanto o roteiro ficou em segundo plano.
É positivo ver o Brasil ganhando espaço nas animações, mas há uma necessidade de celebrar mais a nossa cultura, explorando as belezas do país e seus personagens. A abordagem de questões sociais é importante, mas deve ser feita de forma adequada, que prenda a atenção do público-alvo e agregue ao conteúdo.