Pega Essa Crítica: Aves de Rapina

Primeiramente começo esse texto contando que fui com expectativa bem baixa assistir Aves de Rapina e ver a tal “Emancipação Fantabulosa” da Arlequina. Mas o fato é que me surpreendi (positivamente) não só com as mensagens do filme que foram bem longe do clichê como com a montagem, fotografia e também as cenas de ação (que muitas delas não precisaram de doublê, a pedido das próprias atrizes que queriam manter o filme mais real possível).

Mas, vamos começar do início e contar de onde vem à inspiração para a existência de Arlequina, personagem das histórias em quadrinhos da DC Comics.

Arlequim é um personagem bem conhecido da história mundial. Ele é quem seduz e “rouba” Colombina de Pierrot na Commedia dell’arte nome dado a um teatro popular de origem italiana e que trabalha a comédia com tom sarcástico e certo escárnio. Ele tem a voz esgarniçada, as roupas coloridas feitas de trapo e leva tudo não tão a sério assim. Isso te lembra alguém? Pois bem, ainda tem mais similaridades! Ele tinha a função inicialmente de divertir o público nos intervalos das peças de teatro, como uma espécie de bobo da corte e não era um personagem fixo, mas foi ganhando corpo e se transformando em importante e notória figura, assim como a nossa querida Arlequina, que antes de se emancipar era vista somente como uma sombra de Coringa.

Arlequina no cinema ganhou tanto corpo e destaque através da atriz Margot Robie em Esquadrão Suicida, que acabou ganhando seu próprio filme e junto dela vieram outras personagens fantásticas como esse grupo chamado Aves de Rapina baseada nas personagens já existentes da HQ (a DC só juntou duas histórias no mesmo filme). Voltando as similaridades das personagens – Arlequina e Arlequim – temos também a forma lúdica que se apresentam e o tom de brincadeira quando querem tratar de um assunto bem sério. (Não é assim que o humor funciona?) Ambos servindo como forma de protesto. No filme podemos enxergar a presença de discursos feministas e de empoderamento que hoje em dia já estão tornando-se clássicos mais que necessários.

Depois que seu relacionamento com Coringa acaba Arlequina perde sua proteção e agora começa a se deparar com todas as encrencas que ela havia criado, mas que antes como havia essa aliança os inimigos não a atacavam por respeito a um dos mais temidos vilões de Gotham City. Enquanto isso ela luta por sua independência e por se auto afirmar como alguém que também pode ser temida. Destemida ela se mete em algumas enrascadas quando seu caminho cruza com um chefão do mundo do crime, uma trombadinha, e um diamante e outras mulheres tão fortes quanto Arlequina, se juntam a ela nessa grande confusão.

Voltando a questão do temperamento de Arlequina ser parecido ao de Arlequim, este era insolente, sagaz, debochado e um tanto quanto malandro e usava de toda essa esperteza para sair de tantas confusões que se metia. Ele – como também o bobo da corte – se escondia detrás de uma ingenuidade e fingia estupidez. No palco tinha destreza com movimentos acrobáticos, fazia suas cenas dançando, entrava dançando e fazia estripulias parecendo uma criança e fazia muitas brincadeiras pregando peças nas pessoas, mas sempre saía de todas elas com sua perspicácia e agilidade sem nem ao menos perceber, pois em sua cabeça tudo era uma grande ilusão assim como acontece com nossa protagonista, principalmente nessa história contada pela diretora Cathy Yan.

A história é contada pela protagonista Arlequina então segue a linha de raciocínio da mente dela como se a personagem escrevesse em um diário seus loucos pensamentos e por isso, não segue uma cronologia e por vezes parece confuso, mas calma, tudo está ali por uma razão, e entendemos posteriormente que realmente a ordem dos fatores não alteram o produto e realmente uma história que pode parecer sem pé nem cabeça, pode ser o reflexo da mente infantilizada que Arlequina tem. É possível ver essa mente infantil desde a forma como ela narra em off o começo do filme, que é representado alegoricamente por desenhos que vão nos lembrar as HQs que lemos ou os desenhos animados em 2D que assistimos na nossa infância, até o que escolhe levar do supermercado para sua casa, o que come, etc.

O ponto é que Arlequina começa o filme triste, acabada por Coringa ter terminado com ela e descartado tudo o que viveram juntos. Como qualquer mulher ela vai tomar um porre, comer junk food mas junto a tudo isso por ela querer preservar sua imagem de durona acaba se metendo em enrascadas a partir daí.  Mas, já nesse início do filme, temos bons plot twists sobre como se livrar dessa bad que o termino de um relacionamento traz e como ser uma mulher que dá a volta por cima, pois é isso que de maneira torta, Arlequina faz. E a partir das amizades que ela faz e das mentiras que ela conta, podemos ver não só os traços do Arlequim que mencionei, mas também a sua destreza para recomeçar.

Temos neste filme vilões? Sim, e são homens, pois no caso, nem Aves de Rapina, nem a trombadinha, nem Arlequina, demonstram que estão ali para roubar, matar ou fazer qualquer coisa que o mundo do crime envolva. Elas querem sua emancipação, querem seu pedaço e querem mostrar que tem força e que podem se defender sozinhas. E com todas estas características em comum, nada melhor que se juntarem para que tudo isso se torne realidade não é mesmo? E é ai que está a magica do filme e que nos envolve do começo ao fim e faz repensar certas atitudes mostrando que todas nós mulheres somos capazes e que juntas somos mais fortes!