Pega Essa Crítica- Assassinos da Lua das Flores
Martin Scorsese é um dos grandes diretores da história do cinema. Não é exagero afirmar isso, uma vez que suas obras notáveis são sempre lembradas pelo público como produções de qualidade ou servem de referência para novos diretores construírem suas narrativas.
Clássicos atemporais como Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990) são alguns dos longas fantásticos concebidos por Scorsese, que recebeu seu primeiro Oscar com o ótimo Os Infiltrados (2006). Ainda há espaço e tempo para que o cineasta filme novas e belas obras cinematográficas, como é o caso de Assassinos da Lua das Flores.
A trama trata de uma conspiração realizada em 1920 para assassinar membros da tribo Osage, que haviam se tornado ricos da noite para o dia ao encontrar petróleo em suas vastas terras. Também conta como o FBI utilizou o caso para dar mais força para J. Edgar Hoover e para o órgão americano recém-formado.
Scorsese acerta novamente
A adaptação do livro de David Grann (no Brasil lançado com o título de Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, morte e a origem do FBI)traz à tona um tema amplamente conhecido, o genocídio indígena que ocorreu nos EUA. No entanto, a obra aborda essa questão de forma intrigante, evidenciando mortes suspeitas de membros da tribo Osage, em um conluio arquitetado por William Hale “King” (Robert De Niro) e Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio).
O roteiro escrito por Martin Scorsese e co-escrito por Eric Roth e se sobressai, apresentando a história do ponto de vista dos criminosos, algo não muito usual nas produções do gênero, mas que Scorsese já havia feito em Os Bons Companheiros e volta a trabalhar em Killers of the Flower Moon.
Scorsese já explorou temas urbanos e criminais em diversas ocasiões de sua carreira, e a violência é uma linguagem que ele domina na arte de contar suas tramas. Em Killers of the Flower Moon, essa habilidade é novamente destacada, uma vez que a violência se mostra rotineira na vida diária dessas pessoas. O plano arquitetado por William Hale e Ernest Burkhart para eliminar os indígenas também funciona como uma crítica contundente ao tratamento dado aos nativos americanos ao longo da história.
Os personagens de De Niro e de DiCaprio são equilibrados. O de De Niro se destaca por ser o verdadeiro vilão da história, enquanto o de DiCaprio desempenha o papel um homem que serve aos interesses de seu tio King e tem uma afeição especial por Mollie Burkhart – interpretada pela ótima Lily Gladstone.
Não é a primeira vez que Scorsese dirige um filme com Leonardo DiCaprio no elenco – e ao que parece não será o último -, tendo a parceria surtindo efeito com o já clássico Os Infiltrados e o ótimo O Lobo de Wall Street (2013), além de outras obras consagradas pela crítica. Possivelmente seu personagem em Assassinos da Lua das Flores é o mais sombrio de sua carreira, vivendo um homem sem escrúpulos e que comete crimes com frieza.
Scorsese foi questionado sobre o fato de fazer um filme lento, e houve muitas críticas devido à duração de 3 horas e 30 minutos da obra. Embora seja verdade que o longa tem uma trama que se desenrola de forma mais pausada, com muitos diálogos e pouca ação, não se torna em nenhum momento entediante. Surpreendentemente, as horas passam rapidamente, e o filme não parece tão longo quanto sua duração sugere. Scorsese continua a criar excelentes obras cinematográficas à sua maneira, sem se submeter a interferências de produtores, como ocorreu em Gangues de Nova York (2002).
Assassinos da Lua das Flores pode não ser a melhor obra da carreira de Scorsese, mas mantém o alto padrão estabelecido por outros filmes do cineasta, como O Aviador (2004) e O Irlandês (2019). Se há um diretor que não tem em sua carreira nenhuma produção ruim esse diretor é Scorsese, embora haja equívocos ao longo de sua trajetória, algo que certamente não ocorre neste belíssimo filme, que pode em breve se tornar um clássico cinematográfico.