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Caracterização e figurino: cores do Brasil e do mundo em uma só linguagem

Thelma Guedes e Duca Rachid, autoras de ´Órfãos da Terra’ — Foto: Isabella Pinheiro/Gshow

Em ‘Órfãos da Terra’, coube à caracterizadora Gilvete Santos e à figurinista Mari Sued a missão de criar o conceito visual dos

personagens. Por retratarem diferentes culturas na novela, elas se debruçaram em uma extensa pesquisa.Muitas referências vieram das redes sociais, onde mulheres e homens do Oriente Médio mostram como são impactados por tendências mundiais da moda e imprimem sua cultura e costumes em uma releitura muito rica e diversa. Veja abaixo na entrevista com Mariana Sued e Gilvete Santos suas inspirações e desafios para conceituarem o visual dos personagens de ‘Órfãos da Terra’.

Entrevista com Mariana Sued – Figurino

1) Como foi e quanto tempo durou a pesquisa para a produção de figurino de Órfãos da Terra?

Durante a pesquisa tivemos algumas dificuldades por conta da barreira da língua e do alfabeto. Começamos em outubro e vamos atualizar a pesquisa ao longo da novela, é um movimento contínuo. O universo dessa novela é repleto de possibilidades. Nós contamos com a ajuda de algumas pessoas de origem árabe, que moram no Brasil, e de estudiosos dessa temática. Tivemos acesso a imagens e vídeos de pessoas no Oriente Médio que nos deram noção da vida particular delas. A partir daí, buscamos filmes e séries que se passam na região. O resultado é fruto da mistura entre o que apuramos, um pouco do imaginário coletivo sobre essa cultura e o que a dramaturgia da novela demanda. O mesmo processo aconteceu para as outras culturas que aparecem na novela como os congoleses e haitianos. De uma maneira geral, tudo é baseado na realidade, mas sem compromisso em ser completamente realista, documental, já que estamos falando de uma obra de ficção. Precisamos criar signos que ajudem o público a conhecer e se familiarizar com essa história.

2) O que você destaca como principal diferença do trabalho de produção de figurino desta novela? Qual foi o grande desafio?

O maior desafio certamente foi falar sobre uma cultura muito distante da nossa, sempre de maneira respeitosa e acessível ao público.

3) Quantas peças estão sendo produzidas para ‘Órfãos da Terra’?

O número total de peças do nosso guarda-roupa é inestimável, pois contamos com muitas peças do acervo da Globo e também reaproveitamos de outras produções. Mas o figurino possui cerca de 500 peças novas. Uma parte confeccionada por nós e a maioria comprada fora do país, importadas do Oriente Médio e de grifes europeias.

5) O que destacaria nos figurinos da novela?

Todo o figurino é contemporâneo. Tanto do núcleo árabe e africano quanto do núcleo brasileiro. Eu destacaria o figurino da Dalila que foi baseado em blogueiras muçulmanas, especialmente a Dina Tókio, que apresenta lookscontemporâneos recheados de referências antenadas com as grifes europeias.

Entrevista com Gilvete Santos – Caracterização

1) Qual foi a sua inspiração para fazer a caracterização dos personagens?

‘Órfãos da Terra’ é uma novela que exige muito da caracterização, pois não é fácil representar a cultura de outros países com tanta propriedade e detalhamento. Uma cena simples, mostrando a entrada do Khaléd (Rodrigo Vidal) no hospital, no Líbano, nos deu bastante trabalho, pois todas as enfermeiras e figurantes usavam o Hijab (lenço que esconde o cabelo em uma amarração própria, assumindo o formato de turbante) e tinham uma maquiagem típica, que também é trabalhosa. Mas está sendo uma delícia de fazer e aprender com essa nova cultura.

Temos uma paleta de cores bem diferente nos personagens do núcleo sírio, que eu nunca tinha trabalhado antes. Fiz uma pesquisa enorme tanto em redes sociais quanto em livros. Um exemplo interessante é a Ana Cecília Costa, que vive a Missade, uma mulher refugiada que passa por muitos traumas. Para ela, escolhi carregar no Kajal, aquele lápis de olho preto. Descobri nas minhas pesquisas que o Kajal é mais que uma maquiagem apenas, é uma proteção contra os maus espíritos e renovador de energia. Até os homens usam o Kajal.

2) Além do visual tradicional, vamos ter outros personagens com uma versão mais moderna?

Sim, a Dalila (Alice Wegmann) é rica, estuda na Europa e é uma mulher moderna e antenada. Ela usa muito rímel e um traço roxo no delineador, além de muito blush em tons terrosos ou rosa, e uma boca natural. A tatuagem de Dalila é sua marca registrada e também foi idealizada por mim. Ela é muito intensa e tem firmeza em tudo o que faz. A inscrição em árabe no seu pulso esquerdo significa vida e fogo, o que traduz a personalidade da herdeira do sheik.

3) Você acredita que as brasileiras vão adotar essa moda síria-libanesa?

Aposto em duas coisas que a gente vai usar muito: as batas, tipo um roupão, todo trabalhado. E no cabelo, acho que as pessoas vão adotar a toca da Dalila, uma releitura do Hijab. Também estou apostando que o delineador do olho da Dalila vire moda. Aquele marcado colorido em tons de roxo, abóbora ou verde é muito diferente e acho que vai agradar as brasileiras.

4) Para o elenco masculino, qual é o conceito?

Nos meninos eu estou usando muita barba desenhada e o cabelo mais curto. É um estilo adotado por vários homens do Oriente Médio. Para trazer uma linguagem cosmopolita, eu busquei referências no árabe que vive no mundo europeu, principalmente, em Londres. Os libaneses e sírios usam muito o topete liso com o cabelo raspado na lateral, bem baixinho. Já a barba é desenhada, que pode ser muito grande, média ou curta.

Com estreia no dia 2 de abril, a próxima novela das seis, ‘Órfãos da Terra’, é escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, com Dora Castellar, Aimar Labaki, Carolina Ziskind e Cristina Biscaia. A novela tem direção artística de Gustavo Fernandéz, direção geral de André Câmara e direção de Pedro Peregrino, Alexandre Macedo e Lúcio Tavares.

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