Gilberto Gil é homenageado no 27º Festival de Cinema de Vitória
Músico recebe homenagem por sua contribuição para a cultura e, em especial, pelas trilhas que compôs para o audiovisual brasileiro
Crédito Gérard Giaume
Eu soube que a música era minha linguagem, mesmo. Que a música ia me levar a conhecer o mundo, ia me levar a outras terras”.
A música também levou Gilberto Gil ao cinema e o trouxe para o Festival de Cinema de Vitória. Um dos maiores artistas do mundo, o cantor e compositor é o Homenageado Nacional da 27ª edição do evento, que acontece entre os dias 24 e 29 de novembro, em formato online, em função da pandemia do Covid 19.
Como parte da homenagem será produzido o Caderno do Homenageado, uma publicação exclusiva assinada pelo jornalista e escritor Jace Theodoro, além da entrega do Troféu Vitória.
O Festival também vai exibir pela primeira vez um trecho do aguardado documentário ‘Disposições Amoráveis’, totalmente inédito. O público terá a oportunidade de assistir às primeiras imagens divulgadas do longa-metragem dirigido pela pesquisadora Ana de Oliveira. Rodado em 2019, o filme percorre o pensamento de Gilberto Gil através de encontros, lugares e canções, trazendo para o centro da discussão a linha temática amor e futuro.
Movendo lembranças, sentimentos e histórias, ‘Disposições Amoráveis’ promove a troca de ideias e experiências para construir um grande painel dialógico em que, direta ou indiretamente, todos os personagens acabem conversando com todos. A diretora Ana de Oliveira registrou um grande encontro de Gil com o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, um raro eclipse total do Sol, em pleno deserto do Atacama, no Chile, e uma viagem de Gil à Índia, em Kerala, onde foi ao ashram Amritapuri para receber o darshan (benção) da líder espiritual Amma.
Crédito Candice Carvalho
Para a diretora do festival, Lucia Caus, é uma honra poder homenagear o artista. “Gilberto Gil é a síntese do melhor do Brasil. Uma explosão de talento, carisma, inteligência e representatividade. É uma honra e um prazer reverenciá-lo e, desta forma, homenagear o nosso país”.
Gil no Cinema
Gilberto Gil emprestou o seu talento para diversas produções audiovisuais. Um de seus trabalhos mais emblemáticos no cinema, é a trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles, de 2000, dirigido por Andrucha Waddington e protagonizado por Regina Casé. Gil atua como um curador, ao reunir canções de Luiz Gonzaga e temas autorais, além de apresentar novos artistas, caso de Targino Gondim, autor do Esperando na Janela, um dos sucessos daquele ano.
As 14 canções do álbum promovem essa simbiose, entre passado e presente, ao atualizar a regionalidade dos ritmos nordestinos, como o forró e o xote, para ilustrar sonoramente a história inusitada de uma mulher que vive no sertão nordestino com seus três maridos.
Mas sua carreira no audiovisual começa ainda nos anos de 1969, quando fez sua primeira colaboração para o cinema no filme Brasil Ano 2000, de Walter Lima Jr. No ano seguinte ele assina a trilha de Copacabana Mon Amour (1970), de Rogério Sganzerla, considerado pela Canal Curta! como “um dos experimentos mais radicais do cinema brasileiro”.
Na década de 1980, ele estabelece uma parceria com o diretor Cacá Diegues em dois filmes marcantes na carreira do diretor: Quilombo (1984) e Um Trem Para as Estrelas (1987).
Quilombo, longa protagonizado por Antônio Pompeu, Zezé Motta, Toni Tornado e Antônio Pitanga, conta a história do Quilombo de Palmares, um dos espaços de resistência mais importantes de luta e resistência dos ex-escravizados brasileiros, como o príncipe africano Ganga Zumba. O álbum apresenta uma mistura de ritmos tradicionais brasileiros e africanos, como no samba “Quilombo, o Eldorado Negro” e no reggae “Zumbi (A Felicidade Guerreira)”.
Já Um Trem Para as Estrelas é um drama urbano que conta a história de um saxofonista em busca da sua namorada pelas ruas do Rio de Janeiro. Aqui o lado músico do compositor ganha espaço em uma trilha majoritariamente instrumental, com exceção de “Para Fazer o Sol Nascer” e da faixa título, uma parceria entre Gilberto Gil e Cazuza.
A música de Gilberto Gil também foi inspiração para um dos quatro episódios do filme Veja Está Canção, de 1994, também de Cacá Diegues. “Drão”, uma das mais belas canções do compositor, inspirou o roteiro do episódio protagonizado por Debora Bloch e Pedro Cardoso, que aborda uma grave crise no casamento de um publicitário e sua esposa.
Gil também compôs temas musicais para duas adaptações da obra de Jorge Amado realizadas por um dos maiores cineastas brasileiro, Nelson Pereira dos Santos. Em 1977, “Babá Alapalá”, abre o filme Tenda dos Milagres. Em 1987, ele compõe a música tema do filme Jubiabá.
Como personagem Gil aparece em três documentários em fases distintas da sua carreira. Doces Bárbaros (1976), de Jom Tob Azulay, apresenta os bastidores da turnê histórica em que dividiu o palco com Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia. Tempo Rei, de Andrucha Waddington, Lula Buarque e Breno Silveira, é o primeiro registro audiovisual da vasta obra de Gilberto Gil, celebrando os trinta anos de carreira do artista, comemorados em 1996.
Já Viva São João! (2001), de Andrucha Waddington, acompanha o cantor durante sua turnê pelas festas juninas do Nordeste, onde ele apresenta vários personagens, cantores e pessoas do público local, fazendo um paralelo sobre a história das festas de São João e sua importância para a comunidade local.