Após 53 anos, nova montagem de “The Boys in the Band-Os Garotos da Banda”estreia em São Paulo
Cinco décadas depois, espetáculoserá relançado em 31 de outubro, no Teatro ProcópioFerreira, num momento em que o Brasil busca exorcizar a onda conservadora, os ataques àcultura e à população LGBTQIA+.
Com direção de Ricardo Grasson, a peça éprotagonizada por Bruno Narchi, Caio Evangelista, Caio Paduan, Heber Gutierrez, HeitorGarcia, Júlio Oliveira, Leonardo Miggiorin, Mateus Ribeiro, Tiago Barbosa e Otávio MartinsConsiderada a primeira peça de temática abertamente gay,The Boys in the Band-OsGarotos da Banda(1968), de Matt Crowley, ganha nova montagem no Brasil a partir deoutubro.A primeira versão brasileira, que estreou em São Paulo em 1970, no Teatro Cacilda Becker,foi produzida por Eva Wilma e John Herbert-um casal heterossexual. Com tradução deMillor Fernandes,Os Rapazes da Banda, tinha um elenco com nomes como Raul Cortez,Walmor Chagas, Paulo César Pereio, Otávio Augusto, Gésio Amadeu, Dennis Carvalho e opróprio John Herbert. Apesar de ter sido um sucesso, no auge da ditadura militar, oespetáculo sofreu com a crítica conservadora e a censura por abordar relacionamentosentre homens em plena revolução sexual na era pré-AIDS.Cinquenta e três anos depois,The Boys in the Band-Os Garotos da Bandaencontra umBrasil na ressaca de uma onda conservadora, buscando reconstruir suas bases sociais eculturais.
Com produção da ZR Produções e direção de Ricardo Grasson, indicado aoPrêmio Bibi Ferreira na categoria Melhor Direção em Musicais porO Bem Amado Musicado,o elenco conta com Bruno Narchi, Caio Evangelista, Caio Paduan, Heber Gutierrez, HeitorGarcia, Júlio Oliveira, Leonardo Miggiorin, Mateus Ribeiro, Tiago Barbosa e Otávio Martins.“A importância de montar o espetáculo hoje é assimilar e compreender o que conquistamosnesses últimos cinquenta anos. Conquistas dentro do movimento LGBTQIA+, do movimentonegro, do movimento feminista, da geopolítica no mundo.
É analisar no que avançamos eno que ficamos estagnados. Por este motivo resolvi recortar o espetáculo nos anos 1960 enão atualizá-lo”, explica Grasson.Relações homoafetivas na década de 1960A história se passa em Nova York e gira em torno de um grupo de amigos gays que sereúne para celebrar o aniversário de um deles. A peça aborda questões de identidade,sexualidade, relacionamentos e autoaceitação.
À medida que a festa avança e o álcool sobe, conflitos e ressentimentos reprimidos entre os personagens vêm à tona durante um venenoso jogo que leva a revelações pessoais e momentos emocionais tensos e intensos.A peça foi destaque por sua representação aberta da vida gay na época em que foi escrita, quando a aceitação da homossexualidade era limitada e as lutas pelos direitos LGBTQIA+ainda engatinhavam. Idealizada apenas um ano antes da Revolta de Stonewall–um momento representativo para a comunidade gay e sua luta por direitos básicos–ela oferece um olhar franco e, muitas vezes, cruel e doloroso sobre a vida desses personagens e como eles enfrentam questões de autenticidade e aceitação em uma sociedade
reacionária e violenta, que marginaliza tudo aquiloque não atende aos padrõesestabelecidos.Para Tony Kushner, dramaturgo responsável porAngels in Americae indicado ao Oscar deMelhor roteiro adaptado porMunique(Dir: Steven Spielberg, 2005), The Boys in the Bandrepresenta justamente o momento de ruptura para a humanização dos homossexuais. Emintrodução para a edição impressa de 2018, Kushner explica que “há momentos em que ospadrões se quebram, comportamentos mudam, e seus personagens conseguem articularum comprometimento para mudarem sua postura”. Segundo ele, a peça captura o que háde desconcertante, estranho e embaraçoso nesses momentos pré-explosão rumo àlibertação.Uma peça de teatro além de seu tempoThe Boys in the Band é considerada uma obra importante na história do teatro LGBTQIA+ eteve um impacto significativo na representação e discussão da comunidade gay.
A estreia americana, em 1968, chocou o público convencional por mostrar abertamente avida cotidiana dos homossexuais e teve 1.001 apresentações. O título da peça é umareferênciaao filmeNasce uma Estrela, de 1954, estrelado por Judy Garland, um ícone paraa comunidade gay dos Estados Unidos. No filme, James Mason diz que a personagem deJudy “está cantando para ela mesma e para os rapazes da banda”, uma gíria daqueletempo parase referir aos gays.
Para o crítico teatral Peter Filichia, a produção original da peça ajudou a inspirar os protestos de Stonewall, em 1969, e desencadeou o movimento pelos direitos dos homossexuais. Não poderia ser diferente: no dia da Revolta de Stonewall, The Boys in theBand estava em cartaz num teatro próximo ao local do protesto. Ao fugir da repressão policial, os manifestantes se abrigaram no teatro que mostrava ao mundo as angústias e dilemas de ser um homem gay num contexto de opressão conservadora.
Sucesso nos palcos e nas telasThe Boys in the Band foi adaptada para o cinema em duas ocasiões, sempre com grande sucesso de público e crítica, e também teve várias produções teatrais ao longo dos anos ao redor do mundo. A primeira versão foi adaptada para o cinema pelo próprio Matt Crowley e dirigida por William Friedkin, vencedor do Oscar de 1973 pelo clássicoO Exorcista.Em 2020, dois anos depois de ter sido remontada na Broadway e vencido um prêmio Tonyna categoria de Melhor Revival de peça de teatro,The Boys in the Band ganhou uma nova filmagem com direção de Joe Mantello e produção de Ryan Murphy, responsável por sucessos como Glee,Pose e American Horror Story. Esta nova versão também é considerada histórica por ser a primeira montagem com elenco cem por cento gay. O filme foi um dos maiores sucessos da Netflix naquele ano e mostra que a história continua a ser uma obra relevante e influente na cultura LGBTQIA+