As Mamas de Tirésias, drama surrealista que mescla desespero e humor, estreia na Oficina Cultural Oswald de Andrade sob direção de André Capuano
“[O texto As Mamas de Tirésias] apresenta uma realidade que se aproxima do Brasil atual, em que múltiplos discursos estão sobrepostos, gerando choques constantes que precisam ser observados e urgentemente colocados no campo da criação artística se quisermos avançar”, André Capuano
Figura 1. As Mamas de Tirésias. Créditos para Fábio Amaro e André Capuano
O espetáculo, com duas horas e meia de duração, é resultado de acúmulos: de absurdos, de cenários, de figurinos, de bebês macabros, de entulho e lixo
O escritor e crítico de arte francês Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) é conhecido por ter inaugurado o termo surrealismo nas artes. A peça As Mamas de Tirésias, de sua autoria, foi escrita em 1903 e é reconhecida por muitos como a obra que inaugurou o termo do movimento vanguardista. A partir do dia 1º de fevereiro de 2020, o diretor André Capuano estreia uma montagem desse texto na Oficina Cultural Oswald de Andrade. No elenco estão as atrizes Gilka Verana, Ana Paulla Mota e Priscilla Carbone. Também está em cena Almir Rosa como O Povo de Zanzibar, personagem representado pela discotecagem do espetáculo. A temporada vai até 25 de abril, aos sábados, às 11h.
Além da peça, haverá também uma oficina de teatro ministrada pelo diretor e elenco do espetáculo e uma mostra de cinema surrealista que levará à Oswald de Andrade filmes icônicos que correspondem à essa temática, como Cidade dos Sonhos e O Anjo Exterminador (os detalhes da programação paralela seguem abaixo).
O drama surrealista As Mamas de Tirésias conta a história de Teresa, que ao romper com seu marido – um homem alucinado por toucinhos – o amarra, se veste com suas roupas, corta as próprias mamas e reivindica a liberdade assumindo a identidade de General Tirésias. Em seguida, ela inicia uma campanha contra a procriação. Seu marido, numa afronta, gera sozinho dezenas de milhares de bebês macabros. O enredo, absurdo, se soma a uma escrita fragmentada e em versos, elementos representativos da dramaturgia de Apollinaire.
Em processo de criação há três anos, a equipe composta pelas três atrizes fez o convite para que André Capuano dirigisse a peça. “O acordo que fizemos quando assumi a direção era de que materializássemos ao extremo todos elementos propostos pelo texto, com cada atriz concebendo cada cena a partir de suas próprias inquietações e vontades artísticas”, conta André.
Segundo o diretor, as cenas propostas eram muito diferentes entre si e, não raro, uma contrapunha a outra, o que gerou a concepção da peça. A dificuldade de olhar para a peça como um todo, por causa das diferentes visões apresentadas pelas atrizes, se revelou o gesto principal do espetáculo. A solução foi o aproveitamento máximo das propostas trazidas por cada uma das atrizes para cada parte do texto. Em seguida, André selecionou e sobrepôs os materiais criados, acrescentando também sua visão e conduzindo a criação coletiva das versões finais das cenas e do espetáculo.
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Além de anteceder muitas das inovações dramáticas vistas até hoje, Apollinaire usa o mito do profeta cego de Tebas, Tirésias, para provocar reflexões sobre igualdade de gênero, o militarismo ostensivo e a manipulação midiática. A peça foi escrita diante do clima de destruição, desilusão e incerteza causado pelos horrores da Primeira Guerra Mundial. No texto, ele renuncia à lógica discursiva e da “seriedade” ao lidar com as questões de sua época.
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FICHA TÉCNICA
Texto: Guillaume Apollinaire
Direção: André Capuano
Atuação: Ana Paulla Mota, Gilka Verana e Priscilla Carbone
Discotecagem e operação de som: Almir Rosa
Coreografias: Paula Petreca
Direção de arte: André Capuano
Cenografia: Julio Dojcsar
Figurino: Julio Dojcsar, Ana Paulla Mota, Gilka Verana e Priscilla Carbone
Assistência de palco e assistência de produção executiva: Muninn Constantin
Locução: Marcelo Rocha
Fotos: Fábio Amaro e André Capuano
Produção: Gilka Verana e Weber Anselmo Fonseca
SERVIÇO
As Mamas de Tirésias
01 de fevereiro a 25 de abril de 2020. Sábados, às 11h.
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro, São Paulo
Ingressos: Grátis.
Duração: 150 minutos.
Gênero: Drama surrealista.
Classificação Indicativa: 18 anos.