Pega Essa Dica – A Paixão Segundo G.H
A maioria dos filmes produzidos mundialmente buscam atrair a atenção das massas, ou seja, possuir temas que tentam atingir todo tipo de público (o máximo possível). É o caso dos blockbusters, que são filmes arrasa-quarteirão, que desde sua concepção buscam entretenimento simples com forte apelo popular e resultado financeiro bem-sucedido.
Porém, existem algumas obras que são criadas para um tipo de público específico. Ou seja, para um segmento pouco explorado pelos filmes de massa (um recorte do mercado de entretenimento). A isso se dá o nome de filme de nicho.
E é sobre um filme de nicho que iremos nos debruçar na crítica de hoje.
O filme nacional “A Paixão Segundo G.H.” é adaptação paras telonas do livro de mesmo nome, publicado em 1964, pela escritora brasileira Clarice Lispector (nascida na Ucrânia como Chaya Pinkhasivna Lispector).
Oficialmente, o longa-metragem dramático, distribuído pela Paris Filmes, estreia, nos cinemas, a partir de 28 de março de 2024, mas já havia sido exibido no ano de 2023, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio.
A direção fica por conta de Luiz Fernando Carvalho, brilhante cineasta que já nos brindou com adaptações para cinema e tv de outras obras literárias como: Lavoura Arcaica, Os Maias, Capitu, Hoje é dia de Maria, entre várias.
O elenco conta praticamente com duas atrizes na linha de frente e é encabeçado por Maria Fernanda Cândido que, durante as mais de duas horas de duração do longa, mostra toda a segurança e qualidade que uma interpretação de alto-nível deve ter, deixando evidente a mudança de estado da personagem, aliás personagem esta que é a única a possuir falas.
Muitos espectadores irão enxergar o filme como uma versão videobook do livro, o que se dá pela escolha da estrutura narrativa que utiliza tanto o monólogo quanto as palavras literais contidas no material original. Mas por incrível que pareça, é deixado uma lacuna para nossa imaginação porque as imagens são mostradas aos poucos e não diretamente com os diálogos, dessa forma, não é meramente ilustração do que está sendo dito na tela.
É importante lembrar que, ao escrever o livro em 1964, Lispector utilizou a chamada técnica literária do “fluxo de consciência”, o que de maneira resumida significa dizer que, procurou transcrever o complexo processo de pensamento de sua protagonista, incorporando detalhes sensoriais e descrições vívidas, ajudando o leitor a se colocar no lugar da personagem. No filme, o diretor soube manter a ideia, mas seria exigir muito que na transposição para as telas uma parte significativa dessa técnica não se perdesse.
A trilha sonora sabe o que quer, pois, conduz o espectador durante a jornada existencial da protagonista, evidenciando e dando tom nos momentos dramáticos e menos infelizes da trama. Sim, menos infelizes, pois, é difícil dizer que os momentos felizes realmente o são.
Vou tomar a liberdade de abrir um parêntese nesse parágrafo, que para muitos podem soar como SPOILER, mas é necessário para que, aqueles que não possuem nenhuma familiaridade com a trama, não passem mal enquanto a assistem. Barata, isso mesmo, barata, esse inseto onívoro que causa fobia, nojo e repulsa em quase toda população mundial é um personagem não-humano muito presente na obra. Mas não é a presença dela que incomoda e sim algumas coisas que acontecem com ela e acreditem, é bem indigesto. Avisados foram, agora é com vocês!
No geral, vale a pena conferir, seja pela estética visual ou pela atuação, mas como dito anteriormente, é um filme de nicho, então se muitos dormirem ou simplesmente abandonarem a sessão, não adianta falar mal depois.